Em 1971, o economista norte-americano Mancur Olson formulou a hoje famosa "teoria da ação coletiva". Segundo essa teoria, os indivíduos considerados em si, mesmo que sejam racionais e cientes de que é preferível agir de maneira coletiva, só colaborarão com real voluntariedade se perceberem a probabilidade de auferirem dessa colaboração algum benefício individual para si.
Caso os indivíduos percebam que atuar colaborativamente não lhes é útil ou que lhes é prejudicial, tenderão a deserdar o grupo, ou mesmo, a agir de modo contrário à sua dinâmica, descumprindo com suas obrigações ou boicotando as leis que o grupo lhes impõe. Tal comportamento é instintivo. É tendência o ser humano buscar a sobrevivência e o bem-estar próprios antes de se preocupar com o grupo que o rodeia.
Se a teoria da ação coletiva foi formulada em 1971, sua aplicação para fins políticos é muito anterior. No século 19, Otto Von Bismarck se tornou notório como chanceler do Império Alemão por duas razões: primeiro, por conseguir unificar os territórios germânicos num único Estado e, segundo, por conceber o primeiro sistema de previdência social universal que se tem conhecimento.
O segundo feito está intrinsecamente ligado ao primeiro. Bismarck nunca foi exatamente caridoso, mas era sábio o suficiente para saber que é mais fácil, barato e seguro ganhar a lealdade dos súditos pela distribuição de benefícios materiais do que pela força pura e simples. De acordo com suas próprias palavras, seu intento era "ganhar a classe trabalhadora, suborná-la para que visse o Estado como uma instituição social composta por ela e que deve se ocupar de seu bem estar".
Por aqui, Vargas fez algo semelhante. O estabelecimento de direitos sociais e trabalhistas nas décadas de 1930 e 1940 não decorreu de espírito humanista ou bondade, mas de um cálculo político arguto. Vargas, assim como Bismarck, teve inegável sucesso em seu intento. Dito isto, vou ao ponto: hoje, que motivos teria o cidadão médio para oferecer de fato sua lealdade ao Brasil? Sim, ao Estado brasileiro, que retira benefícios do trabalhador e paga auxílio-moradia ao magistrado. Que trata favelado como bandido e estelionatário como autoridade. Que corta R$ 5,83 bilhões da educação e destina R$ 378,9 bilhões para o pagamento de juros a banqueiros.
Os exorto, senhores leitores, a pensar racionalmente, sem apelar para romantismos tolos ou patriotismos meramente litúrgicos. Que motivos tem o cidadão para deixar seu instinto individualista e dedicar-se de fato a esse imenso grupo chamado Brasil, ser temente às suas leis e fiel aos seus princípios? Não existem muitos e por isso o caos. Pôr o país em ordem passa necessariamente por resolver o problema da ação coletiva e, convenhamos, tirar do cidadão a já frustrante previdência social não é uma boa maneira de se fazer isso.